In Memoriam Credidio Rosa (4/9/1938 - 6/8/2014)

quarta-feira, 25 de abril de 2018

O que são vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos?

Vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos

Hoje em dia fala-se muito em vinho natural, orgânico e biodinâmico.

No universo vinícola a agricultura cria uma geração de consumidores conscientes que busca cada vez mais aliar seu bem-estar ao cuidado com o meio ambiente.

Daí nosso interesse em conhecê-los melhor.

O que é Vinho Natural?

Vinhos Naturais são aqueles feitos com o uso mínimo possível de produtos químicos, aditivos e procedimentos tecnológicos. Isso inclui enxofre, pesticidas, qualquer um dos 200 aditivos permitidos legalmente e manipulações tecnológicas que apagam a individualidade do produto e do terroir.

A definição de vinho natural se assemelha às leis alemãs de pureza da cerveja, onde a cerveja deve ser feita apenas com água, cevada e lúpulo.

A noção de vinho natural surgiu por volta dos anos 60 com o produtor do vinho beaujolais Jules Chauvet, químico, negociante e produtor de vinhos. Seus vinhos não tinham pesticidas, fertilizantes sintéticos, adição de enxofre ou leveduras. Inspirou muitos viticultores a segui-lo.

O vinho natural pode ser produzido a partir de uma agricultura orgânica ou biodinâmica, não contendo leveduras e aromatizantes artificiais. A falta desses conservantes pode reduzir o tempo de vida da bebida.

Vinho puramente natural é feito de suco de uva e pouco mais. A proposta é manter as características naturais da uva. Como não passam por nenhuma filtragem, esses vinhos costumam ser mais escuros e espessos. Para acentuar o sabor devem ser consumidos depois de decantados.

A noção de vinho natural é muito mais elástica, não existindo absolutos, podendo ser simplesmente uma interpretação individual, de cada produtor, de como o vinho pode ser manipulado e vinificado. Possíveis intervenções na  manipulação são a irrigação ou a poda, e na vinificação são a chapitalização (acréscimo de açúcar) ou a inclusão de sulfite para proteger o vinho da oxidação.

Arnaud Tronche, barman do Bar Racines em NY, é fã dos vinhos naturais e diz: “Alguns vinhos são naturais, outros são quase naturais.”

Vinho Orgânico

Cultivo orgânico da uva significa que pesticidas, fungicidas ou agrotóxicos não são usados na vinha. Os fertilizantes são substituídos por adubo natural feito à base de óleos de plantas, sabão e granulados como a bentonita. Estes produtos não penetram na polpa da fruta produzindo, por consequência, menos resíduo no vinho.

Ironicamente, no entanto, muitas vezes, quando "orgânico" é indicado no rótulo de um vinho, não há a garantia que ele seja tão natural assim, já que existem produtores que se autodenominam como "orgânicos", apresar de não serem certificados. O uso de "uva orgânica" é essencial, mas pode-se adicionar qualquer coisa durante a vinificação e manipular com tecnologia e ainda manter a certificação orgânica no rótulo. Esta certificação é cara e pequenos produtores não desejam pagá-la.

A produção de vinho orgânico representa 4% da fabricação mundial da bebida.

Os americanos naturalistas da Califórnia produziram os primeiros vinhos orgânicos do mundo. Após 30 anos os europeus passaram a fabricá-los. Somente os americanos e australianos legalizaram o termo orgânico.

Le Travers de Marceau 2013 é um grande orgânico francês. A América Latina não fica atrás: Familia Cecchin Malbec 2014 é um vinho argentino muito apreciado. Aqui no Brasil Juan Carrau da vinícola Velho Museu e Casa Bento, da Cooperativa Vinícola Aurora são grandes apostas orgânicas nacionais.


Vinho Biodinâmico

A proposta biodinâmica para a produção de vinhos vai além da técnica agrícola convencional: esta é uma filosofia em que a biodiversidade ao redor da vinícola é completamente respeitada. Nesse modelo de agricultura, a natureza se ajuda: os chás naturais auxiliam na mineralização do solo, a plantação de rosas entre as videiras controla a proliferação de pragas e o engarrafamento do vinho é feito de acordo com os ciclos lunares: tudo garante o completo equilíbrio do solo. Por seguir esse ciclo que elimina os produtos sintéticos, a agricultura biodinâmica é responsável pela produção dos vinhos mais intensos, saudáveis e saborosos do mundo.

Baseada nas teorias do filósofo australiano Rudolf Steiner (1865-1925) sobre agricultura em geral, a biodinâmica vê cada vinícola como um organismo vivo e que deve ser mantido de forma sustentável e individual. A terra é também um organismo vivo dependente de ritmos sazonais diurnos e noturnos e receptivos aos ciclos cósmicos.

Os biodinâmicos veem as plantas compostas de raiz, folha, flor e fruto que estão ligados aos 4 elementos: terra, água, ar e fogo. Cada elemento da planta é favorecido em pontos específicos durante os ciclos da lua e sua relação com os 12 signos do zodíaco.

Da Argentina temos os vinhos da vinícola Rousset e o Colomé Malbec Lote Especial 2010. No Chile temos os vinhos da vinícola De Martino Tinajas Cinsault 2013. Para quem prefere os espumantes Raventós L´HereuBlanc Brut 2011 da Espanha e Santa Augusta Espumante Brut do Brasil. A França tem a maior vinícola biodinâmica do mundo, a Domaines Cazes em Rossillon (150ha).

Quais seriam as vantagens de um vinho orgânico ou biodinâmico?

GOSTO: tira-se o melhor proveito de uma vinha.

SAÚDE: é melhor por não conter produtos químicos.

CUSTO: tem uma boa relação custo/benefício pois a maioria não opera no sistema de Denominação. Os vinhos só podem ser rotulados como Vinho de Mesa apesar de bons e as vezes caros.

IMPACTO AMBIENTAL: é muito melhor para o ambiente pois provém de uma agricultura sustentável. Um enólogo natural é um verdadeiro artesão; seu trabalho requer habilidade, paciência e coragem com pequenas recompensas financeiras.

SULFITOS: os sulfitos acontecem naturalmente em toda fermentação do vinho e eles são acrescentados na forma de dióxido de enxofre antes do vinho ser engarrafado para prevenir a oxidação durante o transporte pois impede a entrada de oxigênio na garrafa que é um grande inimigo.
Por outro lado, o excesso de sulfito representa um vinho com excesso de álcool. Muitas pessoas atribuem a dor de cabeça após ingerirem uma taça de vinho ao sulfito e à histamina existente em vinhos tintos tânicos elaborados com Cabernet Sauvignon e Syrah. Para esclarecer esta dúvida basta ingerir um pedaço de pêssego seco que é rico em sulfites para verificar se haverá alguma reação ou cefaleia e para as histaminas ingerir salame com pão de fermento.


Como é bom aprender e não ser esquivo a novos ensinamentos!!!!

Vera Kortas Pires de Camargo

Vinhos Naturais, Orgânicos e Biodinâmicos

Credvinho abril 2018
Enoteca Saint Vin Saint
Vinhos Naturais, Orgânicos e Biodinâmicos

Este restaurante é muito aconchegante, com serviço ótimo, comida deliciosa e para completar os proprietários utilizam produtos orgânicos, muitos de sua própria horta, e uma carta de 200 rótulos com vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos. Foi uma experiência incrível.

Apresentei o tema, tão em moda nos dias de hoje, e que já representa 4% da produção mundial de vinhos. Mesmo as grandes vinícolas tem sua parcela em orgânicos ou biodinâmicos. Entende-se por vinhos naturais aqueles produzidos com um mínimo possível de produtos químicos, aditivos e procedimentos tecnológicos, incluindo, portanto, o vinhedo e a vinícola, a agricultura e a enologia. Nos Orgânicos e Biodinâmicos existe a preocupação de não se utilizar pesticidas e agrotóxicos, sendo os fertilizantes de origem natural à base de óleos de plantas, por exemplo. Para os Biodinâmicos acrescentaríamos os conceitos espirituais e filosóficos buscando harmonia com a natureza.



Nosso vinho de boca foi um espumante espanhol (não Cava) Alcardet Brut, orgânico da região de La Mancha, uvas chardonnay e airen, leveduras indígenas, produzido pelo método tradicional. R$109,00. Muito apreciado.

Degustação

 França: Chateau de La Liguière/Faugères, 2013, Rossillon, uvas Carignan, Syrah, Grenache e Mourvedre. Orgânico e Biodinâmico. 14% GA. R$151,00. Muito equilibrado. Foi o primeiro a ser escolhido.

Itália: Orsi Martignone Barbera/Colli Bolognese, uva Barbera, Biodinâmico, 13% GA. Acidez abundante mas com bom retrogosto e permanência. R$159,00. Foi o segundo a ser escolhido.

Chile: Revoltosa Syrah/Cauquenes, Maipo Cepa Syrah. Orgânico e Natural. Pouco corpo e pouca persistência. 13,5% GA. R$ 115,00. Foi o último a ser escolhido.

Argentina: Matias Michelini Bonarda Pura /Mendoza. Vinho vinificado em ânfora com maceração carbônica, acidez marcante. Vinificação natural e agricultura biodinâmica. 10,8% GA. R$150,00. Foi o terceiro a ser escolhido.




Durante a degustação tivemos pães de fermentação natural e água.

A seguir um Amuse Bouche: bombom de chocolate amargo recheado de terrine de vitela, alongado com vinho fortificado, sal rosa, pimenta preta e azeite. Uma explosão deliciosa.

Como entrada gnocchi de batata doce com pesto de taioba castanha de baru ou quibe de porco com haita de pepino e tahine.



Resolvemos fazer uma extravagância e tomamos 1 vinho laranja (maceração com a casca): Vinho Cacique Maravilha, Chile, feito com Moscatel de Alexandria, GA 13%. Trata-se de um vinho à moda antiga na aparência pela cor e sem filtragem mas interessante no paladar servindo como um vinho coringa para harmonizações mais difíceis.



Para o jantar um cordeiro assado em cama de tzatziki com leite de cabra e hortelã ou risoto de abóbora, folhas de beldroega e queijo de cabra. Para acompanhar escolhemos o vinho português alentejano Bojador, que harmonizou muito bem com as 2 opções de pratos. R$ 99,00.

Esta foi uma noite realmente enogastronômica.

Até maio,

Vera

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Languedoc-Roussillon Cluvinho

CLUVINHO - ABRIL 2018

TEMA - LANGUEDOC-ROUSSILLON ROUGE

LOCAL - NOU RESTAURANTE



A região vinícola de Languedoc-Roussillon é considerada a quarta em importância na França. Fica situada ao sul do país, divisa com a Catalunha e Pirineus e se estende à leste até Côtes du Rhone e toda orla do Mediterrâneo, e ao norte até Carcassonne.

Ali são produzidos vinhos sem sofisticação, mas muito agradáveis e fáceis de serem apreciados. As uvas predominantes são a Grenache, Syrah e Mourvèdre, bem como a Carignan, que já foi a mais plantada na região.

Nossa reunião ocorreu no dia 17 de abril com a presença maciça dos confrades. Dessa vez a chuva não estragou a festa.

Abrimos com o excelente rosé Premier Rendez-Vous 2017, produzido pela LGI WINES em Carcassonne, no coração do Languedoc. Varietal da casta Cinsault, frutado, leve e cítrico, cor salmão claro, não passa por madeira, importado pela World Wine, GA - 12%, preço R$ 68,00. Um rosé para ter na adega.

Para a degustação tivemos:

 TESSELAE OLD VINES 2015 - Vinho da região Roussillon, da sub-região Côtes du Roussillon, produzido pela Domaine Lafage, RP - 93, importado pela Via Vini, um corte de Grenache, Mouvedre e Syrah. Passa 12 meses em madeira para afinamento, fácil de ser apreciado e harmonizado, frutado, GA - 14,5%, preço R$ 140,00. Ficou em terceiro na preferência.

MAS DE MAS MINERVOIS 2013 - Um AOC da região Languedoc, sub-região Minervois, produzido pela Domaine Paul Mas, importado pela Decanter, um corte de 40% Syrah, 30% Grenache e 30% Carignan. Vinhedos com mais de 50 anos, apenas 40% do vinho passa durante 10 meses em barricas americanas, uma acidez mais marcante, levemente frutado, GA - 14%, preço R$ 130,00. Ficou em quarto lugar.

BASTIDE MIRAFLORS 2015 - Vinho da região Roussillon, sub-região Côtes Catalanes, produzido pela Domaine Lafage, RP-94, importado pela Via Vini, um corte de 70% Syrah (em tanques de concreto) e 30% Grenache (em barricasse carvalho). Elegante, equilibrado, um frutado com toques de cassis e cereja, GA - 14,5%, preço R$ 130,00. Foi segundo na preferência.

MAS DE MAS CORBIÈRES 2015 - Um AOC da região Languedoc, sub-região Corbières, produzido pela Domaine Paul Mas, importado pela Decanter, um corte 45% Syrah, 35% Grenache e 20% Carignan. Vinhedos com menos de 40 anos, 25% do vinho passa em barricas americanas de segundo uso e o restante permanece por 10 meses em barricas novas. Elegante, equilibrado, ótimo corpo, frutado, GA -14%, preço R$ 130,00. Foi escolhido como o primeiro na preferência.



A melhor parte ficou no jantar. O mestre Chef Tiago me perguntou pela manhã se não gostaríamos de um cardápio típico da região de Languedoc-Roussillon; achei fantástico. Ele preparou como entrada  um Brandade de Bacalhau, muito elogiado por todos, e como prato principal um maravilhoso Cassoulet com Confit de Pato, cozido com embutidos produzidos na própria casa. Para harmonizar foi escolhido o rouge Chateau Saint Eutrope 2013 da Select Vins, um AOC importado pela Via Vini, WS-90, de Languedoc da sub-região de Corbières. Corte Carignan, Grenache e Syrah, não passa por madeira, GA - 14%, preço R$ 75,00. Se fosse um pouco mais frutado teria harmonizado melhor, mas mesmo assim foi fantástico. Não podemos esquecer o perfeito serviço da Mariana.

Cred não nos abandone.

Taba

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